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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

INTRODUÇÃO AS CARTAS PAULINAS 02

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3. Paulo e os Atos dos Apóstolos
Se Lucas, na segunda parte dos Atos (16-28), fala unicamente da atividade do Apóstolo Paulo, isso não significa que ele tenha sido o único. Paulo tornou-se o símbolo de todos os missionários que souberam levar a Boa Nova de Jesus Cristo pelo mundo afora. E Paulo sozinho não teria atingido seu êxito, se não fosse a grande ajuda de tantas pessoas que com ele abraçaram a fé, que o acolhiam em suas casas (At 16.15.34; 18.3.7) ou que contribuíram com alguma ajuda para as suas necessidades (Fl 4.15-16; 2Cor 11,9).
  Também é importante notar que nem sempre podemos ficar somente com as informações históricas que Lucas nos dá sobre Paulo. Alguns estudiosos simplesmente as ignoram, já que lendo os Atos se descobre que o objetivo principal de Lucas não é tanto a informação histórica, mas a transmissão da mensagem. Outros estudiosos tomam os dados dos Atos com cautela e tentam conciliá-los com os dados das Cartas, sobretudo sobre as suas viagens.
Os Atos dos Apóstolos foram escritos cerca de 15 anos após a morte do Apóstolo. Como se sabe, Paulo não era muito bem aceito em certos grupos cristãos. Lucas tentou resgatar a imagem e o trabalho evangelizador do Apóstolo. Paulo é, para Lucas, a figura ideal para representar o caminho do discípulo na história. Um caminho feito de testemunhos em meio aos conflitos. Mostra que o caminho do discípulo não é diferente do caminho do Mestre (cf. o Evangelho de Lucas). Por isso, serve-se de alguns (não todos) os fatos marcantes da vida de Paulo, apresentando-os a seu modo e segundo sua visão. A estrutura dos Atos dos Apóstolos muitas vezes coincide com a do Evangelho de Lucas.
  Nem sempre os Atos e as Cartas coincidem nas informações. E nesses casos, devemos dar mais crédito às Cartas. Dois exemplos comprovam isso. Comparando At 17,17 e 18,5 com 1Ts 3,1a.6a. Lucas afirma que “Enquanto Paulo esperava em Atenas, ficou revoltado ao ver a cidade cheia de ídolos... Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou inteiramente à Palavra, testemunhando diante dos judeus que Jesus era o Messias”. Paulo, contudo, tem outra versão: “Assim, não mais podendo agüentar; resolvemos ficar sozinhos em Atenas, e enviamos a você Timóteo... Agora, Timóteo acaba de chegar da visita que fez a vocês, trazendo boas notícias sobre a fé e o amor de vocês”. A comparação mostra claramente a diferença. De acordo com os Atos, Paulo estava sozinho em Atenas. Quando os dois companheiros chegam, Paulo já está em Corinto. De acordo com a 1Ts, Paulo e Silas ficam sozinhos em Atenas e Timóteo vai e volta sozinho de Tessalônica. Evidentemente deve-se dar crédito à versão de Paulo.
  Outro exemplo vem de 2Cor 11,24-25, em que Paulo afirma: “dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto-mar”. Olhando para o que Lucas diz de Paulo nos Atos, podemos perguntar: Onde estão as referèncias às cinco vezes em que Paulo afirma ter sido punido com as 39 pauladas? Lucas ignora completamente as 195 chicotadas que Paulo recebeu. E onde os Atos falam de flagelações? Lucas contenta-se em narrar uma (At 16,22-23), omitindo as demais. Por quê? Certamente porque em seus planos. Bastava narrar uma flagelação. Nos Atos não se mencionam as três flagelações.
  Também Lucas narra somente o grande naufrágio da quarta viagem (na qual talvez estava presente). E lembramos que quando Paulo escreve suas Cartas ainda estamos na terceira viagem. E mesmo assim garante ter passado 24 horas em alto-mar.
  O certo, porém, é que a vida e obra de São Paulo são bem maiores do que aquilo que nos relatam os Atos e as Cartas.

  4. Paulo e Jesus
Paulo seguramente não viu o Jesus histórico e nem ouviu sua voz e suas palavras. Teve uma forte experiência do Cristo Ressuscitado (At 9,3-9; 1Cor 15,8). Alguns não queriam reconhecê-lo como Apóstolo pelo fato de não ter sido um dos Doze Apóstolos e de não ter sido escolhido por Jesus e de não ter vivido com Ele.
  Alguns textos das Cartas dão margem a interpretações diferentes. Por exemplo, em 2Cor 5,16b ele escreve: “Mesmo que tenhamos conhecido Cristo segundo as aparências, agora já não o conhecemos assim”. Outro texto como 2Cor 12,1-6 poderia induzir que Paulo estivesse em Jerusalém por ocasião da Paixão do Senhor. Há outros que pensam que Paulo fazia parte do Sinédrio (Parece um tanto difícil que Paulo fizesse parte do Sinédrio. Em At 23,1-10, se vê que ele nem sabe que é o Sumo Sacerdote quem preside o Sinédrio. Ou teria sido um erro de Lucas?) e que tenha votado pela condenação de Jesus, a partir da expressão “dei meu voto” (At. 26,10). Porém, a maioria dos autores segue a linha de que Paulo de fato não conheceu pessoalmente Jesus e não teve contato com ele.
  O Apóstolo não tinha ainda em mãos os evangelhos escritos. Ele os trazia impressos na sua carne, marcada por toda sorte de sofrimentos (1Cor 11,21-29), a ponto de estar crucificado com Cristo (Gl. 2,19), trazendo em seu corpo as marcas da paixão de Jesus (2Cor 4,10; Gl 6,17), e completando, no seu corpo, o que faltava das tribulações de Cristo (Cl 1,24). Assim ele podia dizer que “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
  Pelos escritos do Apóstolo Paulo, nós verificamos também algumas diferenças entre o seu modo de anunciar e o modo como Jesus anuncia. Jesus anunciou a sua mensagem praticamente aos judeus, da Galiléia, pois segundo os sinóticos, Jesus só foi a Jerusalém para a Páscoa, quando foi crucificado e morto e depois ressuscitou. Paulo, por sua vez, percorreu o império romano e foi à Roma (capital) como parte final da sua vida, onde sofreu a sua paixão. Jesus falava em aramaico e anunciava o reino em parábolas, criadas a partir da observação atenta da vida simples do povo da roça e das aldeias. Paulo, ao contrário, embora também soubesse falar o aramaico, anunciou e escreveu em grego, porque seus ouvintes eram judeus da diáspora e pagãos que falavam a língua oficial da época. Paulo também era um bom observador da vida cotidiana, porém usava as imagens, sobretudo da vida e da cultura urbana, das grandes cidades. Ele falava do atletismo, dos esportes, da construção civil, das paradas militares, das lutas nos estádios, da vida dos soldados, etc. Por isso, tentava inculturar a mensagem de Jesus de Nazaré (que viveu a maior parte do tempo na Galiléia) para o universo da cultura grega.
CONTINUA 03
  

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