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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

INTRODUÇÃO AS CARTAS PAULINAS 03

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  5. A “conversão”
O evento de Damasco, historicamente foi sempre conhecido como “conversão de São Paulo” (temos inclusive a festa no dia 25 de janeiro). Porém, Paulo não utiliza nunca a palavra “metanóia”. Também o que aconteceu com Paulo não segue o sentido que no AT os Profetas davam ao termo: “voltar”; “retornar”. Paulo não retornou ao farisaísmo. Ao contrário ele abandona o rigor da Lei.
  Sabemos que Paulo havia se tornado um fariseu sem reprovação (Fl 3,6b). Era o máximo que um fariseu poderia alcançar ser chamado de “irrepreensível”, isto é, que observasse toda a Lei, seguramente também que cumprisse os 613 preceitos. (Um judeu observante segue 613 preceitos, baseados na Lei. Destes, 365 (número dos dias do ano) são em forma negativa: “Tu não farás...” e 248 (número dos ossos do nosso corpo) são em forma positiva: “Tu farás...” Para maiores informações e também para ver a lista completa dos 613 mandamentos,). Os fariseus ( = separados) de fato acreditavam que o Messias viria quando todo o povo cumprisse a Lei fielmente, por isso consideravam o “povo da terra” e da Galiléia uns “malditos” porque não cumpriam a Lei ( Jo 7,49).
  Portanto, o que Paulo faz é “encontrar” o verdadeiro caminho; encontrar-se com o Senhor. Depois da experiência no caminho de Damasco, ele volta a estudar tudo o que tinha aprendido e se dedica a conhecer a mensagem de Jesus. Alguns estudiosos entendem que este foi um longo processo até abraçar de vez o seguimento de Jesus Cristo e tornar-se o grande evangelizador.
Três anos depois da sua conversão, determinou sair de Damasco e ir outra vez a Jerusalém.

  6. Um missionário que escreve cartas às suas Igrejas
O grande carisma de Paulo é ser missionário. Depois de ter fundado as florescentes comunidades cristãs no mundo helenístico, ele não as deixou privadas de assistência, mas as acompanhou com a sua guia pastoral: a “preocupação por todas as Igrejas” representa como ele mesmo afirmava, a sua “preocupação quotidiana” (2Cor 11,28). E para manter os contatos com essas comunidades, para ajudá-las a resolver os seus problemas e para rendê-las mais eficazes no seu testemunho ao mundo circunstante, Paulo se tornou escritor: as suas cartas nasceram da missão e em vista da missão.
  Paulo conhecia o bom funcionamento do correio do império romano e soube fazer deste meio, um instrumento de evangelização. Foi assim, sem saber e sem querer, o primeiro grande escritor do Novo Testamento.
  As Cartas foram escritas em função da situação concreta das comunidades. O Apóstolo acompanhava o crescimento das mesmas, com todos os seus problemas e dificuldades. Por isso, também a sua leitura hoje deve levar em conta a situação específica da comunidade à qual foi destinada cada uma delas.
  O seu modo de ser missionário também é diferente da mentalidade grega da época. Paulo trabalhava e ganhava o seu sustento com o próprio trabalho. E era um trabalho manual. Para as elites abastecidas de bens e culturalmente favorecidas, o único trabalho que dignificava o ser humano era o trabalho intelectual. Numa sociedade onde em algumas grandes cidades até dois terços da população era escrava, Paulo encontrou seu lugar social entre os trabalhadores empobrecidos, ainda que pudesse fazer valer seus direitos de Apóstolo e fundador de comunidades (1Cor 9,1-18; 2Cor 11,7-12).

  7. O Epistolário Paulino
O conjunto das Cartas Paulinas compreende um total de treze Cartas que reivindicam a paternidade do Apóstolo Paulo. A ordem em que se encontram no cânon bíblico não reflete a data em que foram escritas, mas foram organizadas segundo a sua extensão.
  Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo:
  a) Cartas maiores: Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas e 1-2 Tessalonicenses.
  b) Cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon.
  c) Cartas pastorais: 1-2 Timóteo e Tito.

  Outra classificação pode ser feita a partir da possível autoria das mesmas:
  Cartas Proto-Paulinas: que seguramente são autênticas, isto é, que são de autoria do Apóstolo Paulo, e que são aceitas por todos os estudiosos: Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.
  Cartas Deutero-Paulinas: são aquelas cuja autenticidade não é segura ou é negada por certo número de estudiosos: Efésios, Colossenses e 2 Tessalonicenses.
  Trito-Paulinas: 1-2 Timóteo e Tito. Essas dificilmente seriam do Apóstolo Paulo, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I século.
  É certo que algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Em 1Cor 5,9 já se fala de uma Primeira Carta aos Coríntios. Em Cl 4,16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos cristãos de Laodicéia. E temos ainda a famosa “Cartas em lágrimas” aos Coríntios (2Cor 2,4). Alguns estudiosos afirmam que a Carta aos Filipenses é um conjunto de vários bilhetes. E também que a 2Cor é um ajuntamento de várias cartas, enviadas em datas diferentes.
  As Cartas não foram escritas do próprio punho pelo Apóstolo. Ele as ditava (Rm 16,22) e às vezes assinava (Gl 6,11). Talvez a carta a Filemon tenha sido o único escrito com sua própria mão.

  8. O estilo e linguajar das Cartas Paulinas
Em Tarso havia o comércio de escravos, que Paulo deveria conhecer bem, pois usa essa imagem para falar da morte e ressurreição de Jesus (1Cor 6,20; 7,21-25). E várias vezes ele usa a imagem da “compra e resgate” para ilustrar a ação de Jesus em favor dos cristãos.
  Também havia uma ambiente cultural muito grande: arte, arquitetura, esportes, etc., e que Paulo conhecia muito bem, basta ver como usa seus conceitos para elaborar suas metáforas, como por exemplo, a questão da “parada militar”.
  Em suas Cartas encontramos vários hinos (1Cor 13; Fl 2,5-11; etc.) que podem ser provenientes das comunidades onde Paulo evangelizava e que talvez não sejam de sua autoria, e que eram usados nas celebrações. Porém, nada impede que entre os tantos dons do Apóstolo, pudesse também ter o poético.


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